Rachel Naomi Remen é uma médica e escritora americana.
Em “Histórias que curam: conversas sábias ao pé do fogão” ela compartilha histórias inspiradoras.
Segue alguns trechinhos…(que traduzi e adaptei direto do texto em inglês).
“Anos atrás, um homem imigrante alemão nos EUA foi diagnosticado com câncer. Por algum tempo Dieter suspeitava que a quimioterapia não estava ajudando. Disse para seu médico que preferia ir nas consultas só pra conversar:
Ao que o médico respondeu: Se você recusar a quimioterapia, nada mais poderei fazer por você.
Dieter então concordou em manter a QT para poder continuar as consultas e ter aqueles encontros em que se sentia conectado com seu médico.
Ele contou ao grupo de suporte essa história e todos ouviam atentamente.
E ele disse: Sabe, o amor do meu médico é tão importante pra mim quanto a quimioterapia, mas ele não sabe disso.”
Eu não sabia mas o que ele disse fazia muito sentido pra mim…Medicina é tão próximo do amor quanto é da ciência. E as relações importam mesmo a beira da vida. (talvez especialmente a beira da vida).
E depois de alguns anos o oncologista dele foi meu paciente. Ele vivia uma depressão crônica. Me disse que sentia que não importava pra ninguém, que era somente mais um jaleco branco nos corredores do hospital, o pagamento da hipoteca para a esposa, a mensalidade da faculdade para o filho. Ninguém se importaria se ele desaparecesse contanto que alguém aparecesse pra fazer o plantão ou tirar o lixo.
Dieter e ele compartilhavam a mesma necessidade de validação, mas o médico estava sentindo que falhava pq não podia curar o câncer.”
“Não é possível estar em 24 horas de treinamento intensivo e não ser mudado por isso, 36 hs on e 12 horas off. Quando era folga, dormir, era a prioridade. Ninguém reclamava…era assim….
Muitos dos quartos não tinham janelas e frequentemente eu não sabia se era dia ou noite.
Via uma enfermeira do noturno e pensava…deve ser noite novamente.
Em um dia de verão que estava de folga fui visitar meus pais e me dei conta que estava inconscientemente analisando as veias das pessoas no trem e pensando se eu conseguiria puncionar as veias daquelas pessoas. Esse tipo de treinamento muda a forma de pensar e ver as coisas. Gradualmente as coisas que eram centrais na minha vida ficaram pra traz e outras foram ocupando espaço. Eu esquecia muitas coisas importantes.”
“Médicos foram treinados para ver a objetividade cientifica como fundamental e distância para não se machucar ao longo do tempo.
“Objetividade nos faz mais vulneráveis do que a compaixão, nos separa da vida em volta. Também somos machucados pelo que vemos.”
“Médicos se frustram com frequência e pagam um preço muito alto para manter a objetividade.”
“Fui dar uma aula sobre luto para alhos de 1o. e 2o. anos na faculdade de medicina.E somente no final soube que aquele grupo de médicos já tinham tido 2 aulas sobre luto com a psiquiatria. Então me desculpei, “deveria ter escolhido outro tema”, disse eu.
E uma aluna me disse: Não, dessa vez foi diferente. Nas aulas anteriores aprendemos sobre o luto dos pacientes, como reconhecer e respeitar o processo de luto deles. Mas ninguém havia nos falado sobre o nosso luto.
A expectativa de que possamos estar mergulhados em sofrimento e nos lutos dos outros sem ser tocado, é como esperar que alguém ande na água sem se molhar. Isso é uma negação importante. A forma como lidamos com perdas transforma, mais do que tudo, a capacidade de estarmos presentes na vida . A forma como nos protegemos das perdas talvez seja a forma como nos distanciamos da vida. Experimentamos Burnout talvez por não fazermos o luto. Porque nosso coração fica preenchido de perdas e não há mais espaço para o cuidar.”
Muito aprendizado com este texto. Como precisamos falar sobre as perdas. Como preciso abrir espaços para me cuidar. Obrigada por compartilhar.
Estou lendo histórias que curam, me identifiquei muito com seu cantinho de prosa, sou arteterapeuta e tenho meu cantinho com chá ou café esperando uma história a ser contada, Amei